A capoeira se revela um importante instrumento de inclusão para os
portadores da Síndrome de Down e Deficientes Intelectuais e se apresenta como
recurso metodológico, sendo praticada por qualquer idade.Engloba atividades
físicas com o aspecto artístico e musical. Além disso, alia movimentos, força,
coordenação, equilíbrio. Favorece o sistema cardiovascular, desenvolve a
disciplina e estimula as funções psicoemocionais.
O presente estudo refere-se a
alunos com Síndrome de Down( SD ) e Deficiência Intelectual ( DI ), entre
homens e mulheres, na faixa etária entre
10 e 60 anos, que praticam a capoeira; bem como os benefícios advindos dessa
atividade.
Nos resultados obtidos,
constatam-se melhorias nos domínios( motor, social ,afetivo ), maior interação
dos praticantes com outros participantes do grupo, além de satisfatórios
resultados quanto à agilidade, resistência e flexibilidade.
Resultados e discussões
No quadro 1 são
apresentados os dados descritivos da amostra relacionados ao sexo e idade
cronológica. Nota-se maior prevalência de participantes do sexo feminino (70%)
quando comparado ao masculino (30%). No que se refere à idade cronológica,
observa-se primeiramente que a amostra é heterogênea, entretanto, não apresenta
ampla diferença entre as médias quando comparadas por sexo.
Quadro 1. Dados descritivos
da amostra relacionados ao sexo e idade cronológica
Na figura 1 são
apresentados os motivos que levaram os avaliados a iniciar a prática da
capoeira, 50% dos entrevistados buscaram na capoeira uma forma de lazer,
demonstrando um caráter lúdico para a maioria dos praticantes, que consideram
esta atividade física como diversão, onde suas ações são livres e com alto grau
de liberdade.
Figura 1. Motivos que
incentivaram os alunos com SD e DI a praticarem capoeira
No entanto, 20% dos
entrevistados optaram pela capoeira como prática esportiva, com dedicação e
compromissos com os treinamentos. Nota-se também que, 20% praticam capoeira
para fugir da rotina, como um meio de distração nos seus afazeres diários e 10%
pela qualidade de vida.
Segundo Silva (2007), a
capoeira é o material mais rico para se trabalhar com uma criança deficiente, e
isso se consegue pela sua diversidade; pois possui dança, música, jogo, canto,
ritmo, história, cultura e folclore. Características específicas da capoeira e
que nenhum outro esporte ou terapia consegue.
De acordo com Freitas
(1997), os jogos e brincadeiras levam ao domínio cognitivo, motor e afetivo
social. Por meio deles poderá se alcançar melhor desenvolvimento na coordenação
motora, no estímulo visual, na criatividade, na auto-estima e na automatização
de movimentos, além de se melhorar a forma de administrar o tempo e o espaço
dentro de um movimento.
Figura 2. Preferência dos
alunos com SD e DI sobre os aspectos presentes na capoeira
Na figura 2 são
demonstradas as preferências dos avaliados referentes aos aspectos presentes
nas aulas de capoeira. Observa-se que 80% dos sujeitos possuem maior
preferência pelo jogo da capoeira, possivelmente pela realização pessoal que
esta atividade proporciona, além do fato de estarem em plena integração física,
rítmica e social com os demais capoeiristas. O restante da amostra (20%) possui
maior afinidade com a música, demonstrando maior interesse nos aspectos
artísticos e rítmicos, provavelmente devido ao momento de alegria contagiante
presente entre os participantes.
Segundo Miranda (2010)
uma das características da capoeira que a difere da maioria das outras artes
marciais é o fato de ser acompanhada por música. Para Reis Filho et al.,
(2010), o treinamento da musicalização, principalmente a tocada,
tem como objetivo melhorar a coordenação motora fina, pois os alunos possuem
contato com instrumentos tais como pandeiros, atabaque, berimbau e agogô.
O mesmo autor afirma
que as cantigas realizadas durante as rodas de capoeira com pessoas com
deficiência possuem o intuito de melhorar a comunicação entre os alunos e
também como meio de incluí-los na roda de capoeira.
Figura 3. Emoções presentes
nos alunos com SD e DI durante uma roda de capoeira
As emoções presentes na
amostra durante uma roda de capoeira são apresentadas na figura 3. A maioria
dos avaliados (90%) apontaram alegria durante as rodas de capoeira,
possivelmente devido ao ambiente descontraído, com harmonia entre música,
expressão corporal e integração com os integrantes e o público externo.
Observa-se também que 10% demonstram ansiedade durante as atividades, fato
justificado pela expectativa.
Segundo Esteves (2008),
a prática da capoeira tem como meta principal fazer do aluno deficiente um
cidadão feliz, proporcionando condições necessárias para se manter convicto em
suas tarefas, aonde eles superam seus próprios limites e atingem um elevado
nível de satisfação. Sendo que, se o aluno esta feliz com ele mesmo e com o que
esta fazendo, as respostas são mais rápidas e positivas.
Figura 4. Preferência dos
alunos com SD e DI referente às apresentações de capoeira
A figura 4 representa a
preferência dos avaliados durante uma apresentação de capoeira, tendo em vista
que a amostra possui como costume realizar apresentações periodicamente.
Nota-se que 50% preferem jogar, 40% tocar instrumentos e 10% cantar.
Ravagnani
(2008) comenta que a educação musical feita por profissionais informados e
conscientes de seu papel educa e reabilita constantemente, uma vez que afeta o
indivíduo em todos os seus aspectos: físico, mental, emocional e social.
Figura 5. Ambiente em que
os alunos com SD e DI preferem jogar capoeira
No que se refere ao
ambiente, na figura 5 são apresentados os valores percentuais dos locais em que
os avaliados preferem jogar capoeira. Nota-se que 40% afirmam possuir maior
gosto pelo teatro, sendo o restante divido entre escolas (30%) e praças (30%).
Com isso, sugere-se a
hipótese de que a maioria da amostra prefere jogar capoeira em teatro devido
este ser um ambiente apropriado para apresentações, com maior atenção do
público, infraestrutura adequada, qualidade de som e iluminação, entre outros.
Não se pode deixar de esclarecer que os avaliados costumam realizar pelo menos
uma ao vez ano, apresentações no teatro voltado para pais e amigos, o que pode
ter influenciado a preferência por este ambiente.
Os demais ambientes
assinalados pelos avaliados são representados por locais que permitem maior
integração com o público e descontração.
Figura 6. Dados
relacionados à prática de capoeira com pessoas de outros municípios
A figura 6
apresenta os dados relacionados à prática da capoeira com pessoas de outros municípios.
Observa-se que 70% relatam terem jogado capoeira com sujeitos de outras
cidades, representado por compromissos com festivais e intercâmbios regionais.
Entretanto, 30% reportam não praticar capoeira com pessoas de outras
localidades devido motivos pessoais.
Esta integração é
abordada por Miranda (2010) ao relatar que a capoeira não se faz sozinho, por
isso é imprescindível a participação dentro de um grupo. Seu ensino é baseado
na oralidade, com os conhecimentos passados através da vivência e prática
regular. Isso exige que o indivíduo se molde a um grupo e passe a conviver com
as diferenças existentes neste núcleo de pessoas, num exercício de tolerância.
A capacidade de improvisação – de conseguir se adaptar às diferenças e de
dramatizar as situações – é uma característica que o praticante vai adquirindo
com o treinamento, envolvendo malícia e brincadeira.
A capoeira possui um
poder de socialização de rara grandeza, pois emana, através dos grupos de
combate, uma amizade solidificada através dos treinamentos. Essa integração
social irá ajudar o jovem deficiente no futuro, quando esse tiver que trabalhar
em equipe dentro da sociedade (ZANOLINE, 2011).
Figura 7. Dados
relacionados à prática de capoeira em outros municípios
Ainda no que se refere
à integração, na figura 7 são apresentados os dados relacionados à prática de
capoeira em outros municípios. Nota-se que 50% relatam nunca ter jogado
capoeira em outras cidades, 30% duas vezes ou mais e 20% somente uma vez.
Estes dados sugerem a
hipótese de que os avaliados possuem dificuldades de logística para realizarem
intercâmbios regionais com a participação em outras cidades, sendo mais
comumente sujeitos de outros municípios se deslocarem para Votuporanga-SP. Este
fato também pode ser justificado devido à cidade de Votuporanga-SP ser
considerada um dos centros regionais, apresentando infraestrutura mais adequada
para recepcionar festivais quando comparados a outros municípios da região.
Figura 8. Benefícios
observados pelos alunos com SD e DI acerca da prática da capoeira
Os benefícios
proporcionados pela prática da capoeira são demonstrados na Figura 8. Os
avaliados relatam melhora na agilidade (40%), força (20%), resistência (20%) e
flexibilidade (20%). Neste estudo, observa-se também que, todos os avaliados
observaram melhora para realizar atividades diárias, melhora no convívio social
e no convívio familiar e, que pretendem continuar praticando capoeira.
Estes achados estão de
acordo com o estudo realizado por Miranda (2010), o qual afirma que a prática
da capoeira desenvolve uma série de qualidades físicas, entre elas, a
agilidade, força e flexibilidade.
Referências bibliográficas
·
ASSOCIAÇÃO AMERICANA DE RETARDO MENTAL. Retardo mental –
definição, classificação e sistemas de apoio. 10ª edição. Editora:ARTMED:
Porto Alegre, 2006.
·
BEZERRA NETO, José Coelho. Desenvolvimento psicomotor
proporcionado pela capoeira ao Síndrome de Down. Monografia, Curso de
Educação Física, Faculdade Maurício de Nassau, Recife, 2010.
·
RAVAGNANI, A. Desenvolvimento musical e musicoterapia em
crianças Down: um estudo preliminar. In: Simpósio De Cognição e Artes
Musicais. São Paulo, 2008.
·
TEIXEIRA, Maurício. A Prática da Capoeira como
Ferramenta no Processo Inclusivo. 2008. Disponível em: http// www.apaesalvador.org.br,
Acesso em: 25, abril, 2011.
por: Pollyanna de Castro Barbosa.
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